domingo, 22 de julho de 2007
e o sujeito???
Sendo a nossa área de estudo a das ciências sociais – em que a pesquisa enfatiza o carácter único de cada indivíduo – pode ser aliciante revisitar um conceito como objectividade quando a investigação tem como objecto científico algo que se caracteriza pela sua subjectividade.
Como sustenta Boaventura de Sousa Santos “ o objecto das ciências sociais tem características específicas” (1998: 58) que afectam a produção do conhecimento científico no plano metodológico, que implicam um certo atraso e “tornam mais difícil o rigor das ciências sociais” (idem).
Olharei a objectividade como ausência de elementos subjectivos na investigação, e a subjectividade como uma “variabilidade de representação” (Durkheim). A objectividade e a subjectividade relacionam-se com a construção do objecto teórico ou científico, ou seja, um processo que se inicia no objecto real – explorado pelas ciências exactas e pelas ciências sociais – e que resulta num sistema de relações conceptuais expressas a partir da ruptura com o senso comum, sendo este processo sustentado pelos métodos próprios da área científica que se debruça sobre o objecto. Se falamos em objecto, temos forçosamente que falar no sujeito que está em presença de um objecto.
A minha dúvida dirige-se para a possibilidade das ciências sociais isolarem o objecto caracterizado por ser um sujeito em relação, sugerindo esta capacidade uma aproximação aos ideais dos procedimentos das ciências exactas.
Simultaneamente, move-me a necessidade de entender de que modo a subjectividade se anula na investigação das ciências exactas, antes de mais porque esta é concebida por um sujeito que não escapa à sua condição humana, não imune a implicações e cedências de carácter subjectivo dos seus actos. Socorrendo-me de Bachelard, pergunto: será possível eliminar a subjectividade e garantir a “vigilância epistemológica” requerida pelas ciências, para que se afirme o sentido objectivo da investigação?
terça-feira, 17 de julho de 2007
canção óbvia
fotógrafo:Hans Neleman
CANÇÃO ÓBVIA
“Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos e
conversarei com os homens
Suarei meu corpo, que o sol queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais,
meus olhos verão o que antes não viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque o meu tempo de espera é um
tempo de que fazer.
Desconfiarei daqueles que virão dizer-me,:
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso falar
É perigoso andar
É perigoso, esperar,
na forma em que esperas,
porquê êsses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já chegaste,
porque êsses, ao anunciar-te ingênuamente ,
antes te denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.”
Paulo Freire Genève, Março 1971
sexta-feira, 13 de julho de 2007
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